O conselheiro e o engajamento dos acionistas: vale a pena!

Em muitas ocasiões, os integrantes do Conselho de Administração têm mais de um caminho possível a seguir. Seja a decisão sobre qual investimento realizar, ou a velocidade de crescimento da empresa (o que pode implicar em maior ou menor endividamento). É evidente que cada conselheiro irá tomar a sua decisão embasando a mesma em sua experiência pregressa e formação acadêmica, enriquecida pelas apresentações dos executivos e pelo debate com os demais conselheiros. Porém, no meu entendimento ainda há uma etapa a ser cumprida, que é buscar compreender a visão dos acionistas.

Peguem-se os exemplos citados anteriormente. Um investimento em entrar em novas categorias pode fazer sentido para um acionista que é mais arrojado e almeja o crescimento mais rápido possível no curto prazo. Um acionista mais conservador, por outro lado, pode ter mais resistência a aumentar o endividamento da empresa, mesmo que com isso pudesse promover o crescimento dela de forma mais veloz. Como essas situações mostram, muitas vezes os conselheiros terão que escolher entre estratégias e investimentos com características distintas e que possuem um potencial que não pode ser desconsiderado. 

Nessas situações, o profundo conhecimento dos acionistas é necessário, e pode influenciar a tomada de decisões do conselho. Com isso, a decisão estará sustentada pela técnica e pela afinidade com o perfil da empresa e de seus sócios. Minha recomendação é que além das reuniões formais do conselho, que o conselheiro independente invista tempo estabelecendo conexões e ampliando seu entendimento do negócio.

Vou dar um exemplo de uma das minhas experiências como conselheiro. A empresa, do ramo de saúde, tinha um sólido crescimento de receita e rentabilidade. O principal acionista, o qual havia me convidado para ser conselheiro independente desta empresa, era alguém arrojado e ambicioso, e viu uma oportunidade de crescer em um ritmo muito mais acelerado se tivesse um sócio com conhecimento e recursos econômicos. Ao entender esse perfil e concordar com a oportunidade de forma mais técnica, apoiei a empresa a construir sua tese de investimentos, apresentei-a a fundos de investimentos e investidores estratégicos e em meados de 2021 concluímos a negociação de forma muito satisfatória para as partes envolvidas.

Recomendo então que invistam seu tempo em compreender e engajar os acionistas nas decisões críticas que o conselho deve tomar. Irá ser uma ótima contribuição para o sucesso do negócio. E não se esqueça que existem acionistas mais presentes e expansivos (como era o caso deste meu amigo) e outros mais introspectivos e não tão explícitos em suas ambições e visões. Você conselheiro pode atuar de uma maneira a dar voz a cada um, de acordo com suas capacidades e assim promover engajamento e alinhamento das decisões com o perfil dos sócios, sem perder de vista a perenidade e o êxito econômico da empresa. Caso queira explorar mais o tema (ou outros), não hesite em entrar em contato. E vamos com garra absurda!

Rodrigo Guimarães Motta

Doutor em Administração

Diretor do Instituto Germinare e conselheiro de administração

O conselheiro e o engajamento dos acionistas: vale a pena!