A partir da minha experiência teórica e prática, posso afirmar que o papel do conselheiro, além do cumprimento dos princípios da melhor governança corporativa, demanda uma participação de cada integrante do Conselho de Administração (CA) na elaboração e revisão da estratégia da empresa. Para isso, cada um deve ser capaz de propor, motivar e acompanhar a estratégia, dependendo do momento e da maturidade do trabalho.
Vamos avaliar cada um dos pontos acima. Sobre propor a estratégia, o conselheiro de administração deve demandar que os executivos proponham a estratégia mais adequada à captura das oportunidades mapeadas. Note-se que nesse caso, não é o CA que “propõe” a estratégia, mas ele deve possuir a capacidade e a vontade de demandar sua elaboração por parte do time. Uma outra possibilidade é que o próprio conselheiro proponha um caminho estratégico a partir de seu conhecimento de negócios. Como sempre digo, o CA deve ser diverso e nesse momento, essa multiplicidade de visões de negócios pode trazer ótimas ideias de outros setores da economia. Eventualmente, integrantes do CA podem se unir a executivos em comitês para desenvolver temas específicos nos quais o conhecimento deles juntos pode agregar valor extraordinário. Durante meu mandato como conselheiro do Vita Ortopedia e Fisioterapia, pude participar de comitês em conjunto com outros conselheiros, com o presidente e com os executivos de finanças e marketing da empresa para desenvolver e apresentar para possíveis investidores a tese de crescimento da empresa. O resultado deste trabalho foi a venda da empresa para o Fleury, na maior transação do mercado de ortopedia do mercado brasileiro até hoje.
Uma vez com a estratégia proposta e aprovada, o trabalho do CA não acaba, como muitos (inclusive conselheiros) podem pensar. Existe uma fase de motivar a empresa para que ela persiga com determinação a execução da estratégia e a entrega de resultados superlativos. Uma prática que aprendi também no Vita foi a realização de almoços semanais com os demais conselheiros e com executivos convidados. Isso permitiu que todos permanecessem atualizados, motivados para atingir o resultado e que transmitissem esse alinhamento e motivação para os distintos níveis da empresa. Agora, no conselho consultivo da Labrador, busco desenvolver essa mesma dinâmica com o presidente, camarada Daniel Pinsky.
Finalmente existe a responsabilidade do CA acompanhar a execução da estratégia, de forma metódica e organizada. Cabe ao presidente e ao secretário do conselho estabelecer uma dinâmica de disponibilizar um espaço relevante das reuniões para a apresentação do progresso da execução das iniciativas associadas a estratégia aprovada. Existe em todos os níveis uma tendência para desfocar e tratar de atividades urgentes. Se o CA foi pautado por isso, aumentam as probabilidades da estratégia, por melhor que seja, perder tração e não realizar o seu potencial.
Espero ter contribuído com essa reflexão para o desenvolvimento de CAs mais fortes e úteis. Propor, motivar e acompanhar são as palavras-chave que deixo para vocês. Gostaria de receber o feedback de vocês sobre o artigo e conhecer a sua visão sobre o tema.
Vamos com garra absurda!
Rodrigo Guimarães Motta
Conselheiro de Administração
Doutor em Administração