Como o Conselho de Administração pode lidar com os riscos empresariais

Este artigo explora como o Conselho de Administração (CA) pode lidar com riscos empresariais aos quais as empresas enfrentam. A gestão de riscos é algo de absoluta importância, tanto para o sucesso, quanto para a sobrevivência do negócio. Há algum tempo escrevi um artigo sobre a postura do CA quanto a gestão do risco, sob uma perspectiva mais atitudinal e agora escrevo sobre como o conselho deve atuar a partir de uma abordagem mais técnica.

 É necessário em primeiro lugar, entender quais são os riscos mais frequentes de ocorrerem. Um, evidente, é o de não entregar resultados suficientes para assegurar a prosperidade e a longevidade do negócio. A gestão deste tipo de ameaça faz parte da razão de ser do CA e já foi explorada em outros artigos:  acompanhar os principais indicadores de resultados e aprovar e revisar sempre que necessário as estratégias desenvolvidas para o seu atingimento. Para tanto, recomendo a realização de uma abordagem metódica em todas as reuniões do CA, o qual pode convidar o presidente e os diretores para apresentarem as informações em uma parte da reunião, previamente destinada para esse fim pela secretaria do conselho. Quando exerci a função de conselheiro de administração independente do Vita Ortopedia e Fisioterapia, as reuniões eram menos estruturadas e nem sempre os indicadores e estratégias eram apresentados e debatidos. Foi realizado um esforço ao longo do primeiro ano de trabalho para definir quais eram as informações que demandavam acompanhamento frequente e o padrão da apresentação. A partir desta iniciativa, os resultados começaram a melhorar de forma consistente, mês após mês. mesmo quando a pandemia ameaçou comprometer as operações da empresa.

Outra dimensão dos riscos corporativos que merece atenção é quanto a transparência e correção das informações apresentadas aos acionistas, ao CA e ao mercado em geral. Para isso, é preciso que sejam constituídos comitês (em geral com a presença de um integrante do conselho e por executivos oriundos do negócio) para contratar e apoiar a realização periódica de auditorias independentes contábeis, fiscais e tributárias. Destaco o “independente” da frase anterior. O recente caso das Lojas Americanas demonstrou para o país o risco para a sobrevivência de uma empresa da não realização dessas auditorias (de forma independente, novamente), o que a deixou vulnerável aos mais diversos tipos de manipulação dos resultados. Além disso, riscos quanto a reputação da empresa, precisam ser monitorados e sempre que necessários endereçados com ações junto aos órgãos responsáveis e até mesmo através da equipe de relações públicas. Para monitorar isso, novamente faço a recomendação da constituição de um comitê para apoiar os trabalhos do CA nesta importante frente.

Espero ter contribuído com essa reflexão para o desenvolvimento de CAs que saibam lidar com riscos empresariais. Para tanto, sem a pretensão de encerrar o assunto, acompanhar de forma metódica os resultados e as estratégias nas reuniões, a contratação de auditorias fiscais, contábeis e tributárias para validar as informações analisadas e a constituição de comitês temáticos para a organização dos dados levantados e também para tratar de assuntos quanto a imagem da empresa, são os pensamentos-chave que deixo para os leitores. Gostaria de receber o feedback de vocês sobre o artigo e conhecer as suas visões sobre o tema. Vamos com garra absurda!

Rodrigo Guimarães Motta

Diretor Instituto J&F (Germinare)

Doutor em Administração

Como o Conselho de Administração pode lidar com os riscos empresariais