O papel do Conselho de Administração na gestão de riscos corporativos

Afinal, qual o papel do Conselho de Administração (CA) na gestão de riscos corporativos? Para responder a esta pergunta, é necessário, inicialmente, definir o que são riscos corporativos. A partir da minha experiência, organizo os riscos em duas grandes categorias. A primeira delas é o risco legal, da empresa enveredar por práticas proibidas e antiéticas, o que pode comprometer não apenas a imagem da empresa no mercado, como também os resultados do negócio. Para entender a dimensão deste ponto, pense nas práticas dos executivos das Lojas Americanas que vieram à tona em 2023 e da participação dos conselheiros na aprovação e acompanhamento dessas, situações que estão tendo intensa visibilidade na mídia e colocando em risco a própria existência da empresa.

Sobre essa primeira categoria, recomendo que o CA tenha uma tolerância zero em relação a realização de práticas proibidas por parte dos executivos. Isso é inegociável. A formação de um time de conselheiros com essa postura deve começar no processo de seleção e orientar a remuneração e avaliação deles durante o seu mandato. Para apoiá-los nessa forma de trabalhar, recomendo a organização de comitês temáticos sempre que necessário, para assegurar a solidez das informações fornecidas, assim como a análise delas. Esses comitês, para desempenhar essa atividade, devem ser abastecidos com informações de qualidade, organizadas a partir de um portfólio de relatório internos e auditorias externas (contábil, tributária, fiscal, por exemplo). Ainda que alguns possam criticar esse rigor por ter custos altos e tornar alguns processos potencialmente mais lentos, os recentes fatos demonstram que, usando um jargão popular, “o barato sai caro”.

A segunda categoria de riscos que o CA deve combater é adotar uma postura complacente e passiva, que deve ser substituída por uma postura corajosa e ativa em relação aos executivos (e acionistas). As reuniões de conselho não podem ser apenas uma reunião de camaradas que se encontram para confraternizar e debater temas superficiais uma vez por mês. Cada um dos conselheiros deve ter uma atitude proativa e combativa, se preparando da forma adequada para as reuniões, exercendo uma escuta ativa dos pontos de vista oferecidos pelos demais integrantes do CA e realizando suas melhores recomendações para o crescimento e prosperidade da empresa. Essa postura pode ser um pouco assustadora para conselheiros novos, que podem ter medo de uma eventual rejeição ou até perda da posição, mas asseguro que com o tempo, eles serão valorizados e ainda mais respeitados pelos demais. Os acionistas e executivos identificarão nos conselheiros profissionais experientes e capazes para contribuir com a empresa. Com isso, as reuniões serão mais produtivas e o CA poderá se tornar um verdadeiro time de excelência, 

Espero ter contribuído com essa reflexão para o desenvolvimento de CAs mais preparados para enfrentar os diferentes riscos que a empresa enfrenta em seu dia a dia. Ter uma tolerância zero em relação a realização de práticas proibidas e adotar uma postura corajosa e ativa são as palavras-chave que deixo. Gostaria de receber o feedback de vocês sobre o artigo e conhecer a sua visão sobre o tema. Vamos com garra absurda!

Rodrigo Guimarães Motta

Diretor Instituto J&F (Germinare)

Doutor em Administração

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