No mundo nas últimas décadas e no Brasil nos últimos anos, a relação entre o Conselho de Administração (CA) e os acionistas têm sido muito questionada. Ainda que existam inúmeras nuances e complexidades que tornam impossível abordar esse tema em um artigo apenas, há uma questão que deve ser tratada neste momento: a necessidade do CA zelar pelos melhores interesses dos acionistas, desde que os mesmos estejam alinhados com os objetivos e com as estratégias da empresa e também que sejam pautados no mais absoluto rigor ético e moral.
Infelizmente, existem histórias que nos mostram que acionistas inescrupulosos pressionam o CA para que o mesmo aprove pautas que beneficiam alguns acionistas em detrimento dos demais e até mesmo da própria saúde da empresa. Esses acionistas pressionam àqueles conselheiros com os quais têm proximidade (alguns dos quais foram indicados por eles). Intimidados, com receio de perder sua posição, ou quem sabe achando que devem um favor a quem os indicou, os conselheiros, mesmo não concordando, cedem. Toda a estrutura montada para construir e garantir uma governança corporativa de excelência foi destruída por essa dinâmica. Pode até demorar um pouco (vejam o caso das Lojas Americanas), mas inevitavelmente essa dinâmica irá colocar em risco até mesmo a sobrevivência da empresa.
Minha recomendação para os conselheiros: Sejam lúcidos e firmes no seu propósito: contribuir na elaboração e no acompanhamento dos melhores planos para o sucesso de curto, médio e longo prazo da empresa. Defendam o terreno: lutem incansavelmente para que o CA seja um órgão respeitado, independente e que promova o desenvolvimento da empresa e que não beneficie interesses divergentes daqueles que avancem nessa direção. No limite, estejam prontos para o confronto: em situações dramáticas, com serenidade, ponderação e um arrazoado de análises embasadas em fatos e dados, lutem pela prosperidade da empresa da qual fazem parte.
Espero ter contribuído com essa reflexão para o desenvolvimento de CAs mais preparados para enfrentar os diferentes riscos que a empresa enfrenta em seu dia a dia. Sejam lúcidos e firmes no seu propósito, defendam o terreno e estejam prontos para o confronto, são as palavras-chave que deixo. Gostaria de receber o feedback de vocês sobre o artigo e conhecer a sua visão sobre o tema. Vamos com garra absurda!
Rodrigo Guimarães Motta
Diretor Instituto J&F (Germinare)
Doutor em Administração